Vida real (?)
Saturday, September 12, 2009
Rebirth
Abri este blog há alguns dias para mostrar a uma amiga uns textos das antigas. Dos tempos dinossauricos. Me surpreendi com o que tinha escrito aqui... Principalmente com o texto do Ano Novo. Vale a pena ler, loucos seguidores deste aprendiz de escritor.
Pois bem, mil anos depois aqui estou eu novamente e queria compartilhar com vocês parte do meu dia de ontem. Não sei se é de conhecimento de todos, mas este projeto de máquina de escrever dotado de sentimentos sofre de um mal que nos nossos dias aflige boa parte da população mundial. Uma escuridão profunda e sem fim que surge logo ao amanhecer, torna-se mais profunda ainda a tarde e acaba por consumir qualquer fagulha de esperança e luz que ainda queira resistir em seu ser: depressão.
Nesses dias os dias não tem cor, as coisas não tem cheiro, e nada - repito: NADA! - faz o mínimo sentido. As coisas que normalmente traziam prazer, satisfação, tornam-se meros acontecimentos desprovidos de essência.
As pessoas ficam cada vez mais hostis e suas palavras, na tentativa de trazer um lampejo de serenidade e sobriedade, soam distantes como o barulho dos carros que passam em uma avenida ao longe. Você sabe que eles estão passando por lá, sabe que a avenida existe, mas pouco importa: está tudo muito distante.
A fome se vai e, como ela, o desejo também. Deste último só resta mesmo o pior de todos, aquele que espero nunca bater a vossas portas: o de não existir.
No entanto, como mágica, surge uma mão a lhe afagar os cabelos e a dizer palavras que, não se sabe como, desviam sua rota daquela tal avenida ao longe e conseguem penetrar a quase intransponível e densa fumaça negra que toma conta de tudo que está a sua volta. Diz que tudo aquilo vai passar e que não há com o que se preocupar: "Estamos aqui!".
Queria que entendesses que não faço por mal. As palavras duras e injuriosas que saem de minha boca não pertencem ao escritor que ora lês. Elas tem vida própria e um único desejo: afastar aqueles que realmente se importam e tornar-me posse delas. Querem me enlaçar, me envolver num aparato todo armado de mentiras sobre mim mesmo e sobre o mundo na tentativa de sugar o resto de energia que ainda tenho, pondo-me numa espiral descendente sem fim, onde cada minuto que passa vem seguido de frio, de dor e da mais completa obscuridade.
E então, não tendo forças para me sobrepor a tais investidas, sou usado como instrumento do medo, do inóspito, do inesperado. Acabo assustando as pessoas com meu próprio medo, afastando-as, mantendo-as à distância... Mas esse não é o meu real desejo! Não...
Don't go so far!
Ao som de: Ode to my family - The Cranberries
Tuesday, October 16, 2007
Feliz Ano Novo! (( pera aí! Mas já? =O ))
Calma, gente! Não foi a minha tentativa de escrever contos de suspense que me deixou louco, não. Esse textinho que vou postar desta vez é realmente um filho querido. Foi escrito ainda em Vitória da Conquista, às vesperas de um ano novo, num emprego chinfrim que eu tinha de digitador de transportadora, com umas das minhas maiores aventuras - leia-se sair de casa! - prestes a acontecer - e eu nem sabia disso na verdade!. Procurei esse texto como louco, até, enfim, encontrá-lo anexado a um e-mail que enviei a um amigo das antigas da facul, aqui de Sampa mesmo. Sou grato a ele. Espero que meus raríssimos leitores apreciem sem moderação tais desejos de ano novo que, ao meu ver, chegam a soar piegas, mas que, no fim, acaba. (( ¬¬ ))
Realmente o tempo tem passado cada vez mais rápido.
Não esse tempo que nós, homens, criamos e tentamos enfiar em uma máquina minúscula pendurável em qualquer braço. Refiro-me, na verdade a todas as oportunidades únicas que a vida nos oferece e que evaporam-se quando menos esperamos.
Poderíamos, por exemplo, dizer mais “bom-dia” por semana, mas não dá.
Poderíamos dizer mais “te amo” por dia, mas também não dá. Criamos uma série imposições e junto com elas um suposto tempo que não permite gastos desnecessários. “O dever me chama”, “Pra que dizer? Você sabe que eu te amo!”.
Tomamos muito pouco banho de chuva durante a vida. Dia após dia o sol nasce e se põe e quase nunca presenciamos tão belo espetáculo. A lua aparece todas as noites em lugares diferentes do céu, e pouco nos importamos. A vida vai passando.
Na verdade, creio que os maiores espetáculos da vida são gratuitos. Talvez por isso não damos o valor merecido. Se as formigas cobrassem para mostrar a força que têm ao levantar pesos muito acima dos seus, ou as águias cobrassem para demonstrar como fazem para ensinar sua cria a voar, creio que haveria filas e mais filas, com risco de não caber mais ninguém para ver o show durante os próximos 6 meses.
A vida é grátis. E seus shows também. Você, por exemplo, é um dos maiores shows que existem na face dessa Terra. Quantos mecanismos complexos e miúdos existem aí dentro desse arcabouço de ossos e músculos que você nem imagina? Vários! Mas não temos tempo para pensar sobre essas coisas. “Preciso pagar minhas contas”. “’Benhê’, eu amei aquela bolsa!”.
Enquanto isso o verdadeiro TEMPO se esgota. A preciosa dádiva que recebemos de viver uma única e exclusiva vez sobre esse planeta belíssimo vai se esvaindo por entre nossos dedos, olhos grandes e bolsos vazios.
Esse é o nosso tempo. O de viver intensamente aqui. O de amar intensamente aqui. O de falar sem receios o que tem de ser dito. As oportunidades, uma vez apresentadas a nós, só aguardam o que decidiremos fazer com elas.
Tenha um ótimo início de ano. Que nessa mais nova jornada de sua vida, você possa aproveitar ao máximo cada momento mínimo que te for possível. Ria, chore, se emocione. Viva, simplesmente viva!
Friday, September 07, 2007
Chapter Two – Sin and fire
Toc, toc – bateram à porta do gabinete do reverendo. Era meio de tarde. Domingo. Calor.
- Pode entrar.
Era um jovem do coro. Deveria ter uns 20 anos. Rosto “enferrujado”, cabelos avermelhados, pele branca como o leite que se joga no cereal matinal todas as manhãs.
- A paz, reverendo! Eu te procurei porque precisava falar com alguém... Não sei se o Senhor sabe, mas eu namoro a líder do grupo de juvenis. Reverendo, nós estamos com um problema... não sei como dizer...
- Meu jovem, lidero esta igreja há anos. Nada do que me diga pode me surpreender tanto como imagina. Aliás, acho que até sei o motivo pelo qual te recebo aqui hoje...
O reverendo fez uma pausa em sua fala. Durante seus anos à frente daquele trabalho, estava já saturado de tantos jovens que o procuravam para contar-lhe sobre suas aventuras sexuais pré-casamento, geralmente com fins indesejáveis, fins esses que poderiam ser contidos com o uso dos preservativos e todo leque de contraceptivos anunciados na mídia em geral. Mas o fogo do pecado tem chamas que queimam mais alto que as do bom senso.
- Então creio que não preciso entrar em detalhes, pastor. O que faremos? Eu preciso do perdão de Deus... Sinto-me envergonhado...
As lágrimas ameaçavam cair de seus olhos a todo o momento, mas relutavam. Pareciam saber que haveria momento mais propício para que caíssem pela última vez.
O reverendo pegava a bíblia na mesa auxiliar à sua direita. Folheou um chumaço de folhas até parar e passar o livro para que o jovem pudesse ler.
- O livro da sabedoria, meu jovem. Provérbios. Leia o verso 13 do capítulo 28.
“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.”
- O que você fez aqui hoje foi aprazível aos olhos de Deus meu jovem. Você está disposto a deixar?
- Sim.
- Então não há mais o que fazer aqui. A Palavra é sábia e não mente.
- Mas... mas...
- Não há mais nada! É simples assim. Agora, se não se incomoda, tenho que concluir o sermão dessa noite.
O jovem parecia assustado agora com o tom de voz do pastor e achou por bem não insistir. Estava perdoado, já poderia ir em paz. Pelo menos por enquanto.
Eis que é chegada a hora
O culto terminou e não houve a famosa confraternização entre os irmãos. Todos pareciam entorpecidos com a visão do fim. Pareciam reflexivos, distantes, temerosos. Quem seria o primeiro a atender ao anseio do Pai? Essa era uma pergunta que só cabia a um homem responder e ele já conhecia a resposta desde a semana anterior.
Na frente do templo, depois que quase todos já haviam deixado a casa de Deus para irem para as suas próprias, o jovem “enferrujado” dá partida em seu carro com a namorada no banco do carona. Partem rumo a casa dela. Vão pelo caminho que fazem todos os domingos.
Muitos assuntos surgem enquanto dirige. A gravidez, os planos, o que fazer?, a conversa com o reverendo, a faculdade, aborto. Como contariam para os pais dela? Até então somente eles e o reverendo guardavam esse segredo... Uma freada brusca!
Na estrada do bosque, antes de chegar ao condomínio onde vivia a leviana líder dos inocentes juvenis, uma caminhonete estava parada atravessada na pista. Faróis acesos.
Os dois jovens, por não entender o que se passava, não tiveram nem motivos para se amedrontar. Saíram do carro sem pestanejar e se aproximaram para ver o que se passava, para ver se alguém precisava de ajuda.
Estavam tão concentrados – tão interessados em ver o que se passava na caminhonete, talvez – que não perceberam se aproximar deles, por trás, um homem trajando preto com lenços umedecidos em éter nas mãos. Não se preocupava em cobrir o rosto. Não o veriam mais. Abraçou com força os dois jovens tapando suas bocas com aqueles lenços brancos embebidos num líquido que, agora para eles, tinha o odor da própria morte.
Acordaram meio zonzos uns minutos depois, nus, amarrados um de frente para o outro dentro de uma vala cavada na terra vermelha do bosque. O mundo parecia rodar como um carrossel. O cheiro agora era outro... Era cheiro de mato, do bosque, mas tinha também... “Gasolina! É isso! Deus... O que está acontecendo?!?!?”
- Deus? – ouve-se uma voz vinda da escuridão. Deveriam ter chamado por Ele em seu momento de fraqueza. Deveriam ter se dedicado ao labor da obra do “Senhor da vinha”, mas ao invés disso decidiram se entregar ao prazer, à libertinagem, ao calor da vã satisfação mundana.
O ar estava se tornando cada vez mais irrespirável para os dois. Estava abafado. Estava escuro, apertado. O mundo não parecia querer parar para os dois. Ela começava a identificar a voz...
“Depois levará o novilho fora do arraial, e o queimará como queimou o primeiro novilho; é expiação do pecado da congregação." (Levítico 4 : 21)
Mesmo com um mundo que não parava em suas cabeças (que pareciam ter o dobro do tamanho com a dor que sentiam), ainda puderam ouvir um estalido de um isqueiro e viram a pequena chama que se seguiu. Tentaram uma reação qualquer, mas não tinham como gritar mais: as chamas agora tomavam conta de seus corpos desnudos dentro daquela cova. O fogo parecia gritar mais alto que a agonia do casal. Parecia querer consumir de uma vez os jovens pecadores que repetiam o que seus pais haviam feito anos atrás. Os corpos, ainda vivos, se contorciam em meio ao clarão da “fogueira do sacrifício”.
“A Terra precisa ser purificada. Graças te dou, ó Pai, por tão importante missão que entregaste a mim”.
Não parecia haver mais vida nenhuma ali dentro do buraco. O cheiro de carne tostada pairava no ar.
Antes de partir em , pôs a mão no bolso interno de seu casaco negro e tirou de lá um cd, colocou cuidadosamente no player do carro do “enferrujado”. Apertou a tecla repeat duas vezes.
Entrou em sua caminhonete e ouviu ao longe uma bela trilha cantada por um coro de igreja, gravada ao vivo, com um tal garoto branco como o leite do matinal solando:
“Because He lives, I can face tomorrow; Because He lives, All fear is gone!”
Chapter One – The vision, the misson
- Que a paz esteja convosco!
A igreja responde em um uníssono e fervoroso “Amém!”.
- Amados, hoje poderia ser uma noite comum como vêm todas as outras. Mas tenho algo grande da parte de Deus para compartilhar com os irmãos. Há três noites Ele vem me dando uma visão do que estar por vir. Abramos todos as nossas bíblias em Mateus 24.
Enquanto se ouvia aquele barulho peculiar das finas folhas dos livros negros sendo manipuladas pelas mãos dos fiéis, na cabeça do reverendo um turbilhão de idéias e sentimentos obscuros e desconhecidos para ele até essa semana tentavam dominá-lo. Mas ele teria q ser forte. Pelo menos até chegar a hora de seu plano, enfim, poder ser executado.
“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane...”
O reverendo tira o lenço do bolso de trás da calça e limpa algumas gotas de suor que começam a querer denunciar a batalha que se passa dentro dele.
“Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome...”
A leitura continua. A igreja espera ansiosa pelo relato das tais visões. O conselho de anciãos acompanha a leitura daquele texto “batido” aguardando o que de novo o líder daquela igreja tem a lhes trazer da parte de Deus.
“Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes...”
...
“Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra...”
- Pois bem, queridos, eis que é chegada a hora. Enquanto dormia noite passada – e nas outras duas também – fui arrebatado em espírito e vi coisas as quais tive imediata autorização de compartilhar com a igreja, visto que já estamos nos dias do fim. Seremos parte e veremos esse fim. Mateus 24, amados, já começou. Muitos de nós – e quando digo nós, digo acerca de NÓS, igreja! – desaparecerão nos próximos dias. Deus tem pressa, amados, de vê-los, de tocá-los, de tê-los em Seus braços. Ele mesmo me disse isso!
A fala do pastor prosseguiu, mas os irmãos não sustentavam mais a expectativa inicial. O sentimento agora era de medo, insegurança. Todos almejam o céu, mas ninguém quer um passaporte carimbado e um bilhete com data marcada para lá. Afinal, ver o céu quer dizer deixar este mundo e muitos dos que ali estavam sentados ainda tinham assuntos pendentes que demandariam mais tempo.
O reverendo terminou com uma prece. Seu plano estava apenas começando. “Muitos de vós desaparecerão...”. Pensou nesse trecho e um sorriso quase imperceptível surgiu no canto de sua boca. Eis que é chegada a hora...
“... porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis...”
Thursday, May 24, 2007
Borboletas não precisam de martelos e os chatos não são populares.
Será que alguém já ficou curioso por nunca ter visto um martelo rodeado por borboletas? Ou por nunca ter visto um chato na companhia de muitas pessoas que o adoram? Talvez você até possa ter visto um chato popular... Mas afinal, o que uma coisa tem que ver com outra? Ah, isso, meus caros, não é nenhum mistério! É o mesmo princípio que faz com que os urubus não precisem de bicicletas, e que os jumentos não liguem a mínima para o Mercedes SL 55 AMG. Muito simples! Não é verdade?
Essas absurdas reflexões são fruto da plenitude do meu ócio, e do caminhar cambaleante dos meus dias ao longo da vida. Pelas profundezas do mar de melancolia pelo qual tenho passado, descobri que todas as conexões desse mundo são regidas pelo binômio “necessidade-utilidade” - só se necessita daquilo que é útil. Eu sei, não é novidade, mas leia até o final.
Segundo Aurélio Buarque de Holanda, útil é tudo aquilo que traz proveitos, vantagens. Sendo assim, só se necessita das coisas que trazem alguma espécie de proveito, qualquer que ele seja. Então, fica claro porque as borboletas não precisam de martelos. Eles não as trazem vantagem alguma!
Eu, no atrevimento que me é inerente, ouso afirmar que a utilidade está muito além da necessidade das coisas; ela ultrapassa os limites da afinidade e simpatia que as pessoas detêm umas pelas outras. É verdade! O círculo social de afinidade é determinado, diretamente, pela vantagem que cada uma das pessoas são hábeis de proporcionar. Nunca se perguntou o porquê daqueles que são prestativos e obsequiosos serem chamados “boa gente”, e os individualistas “arrogantes”? Ora, quem é individualista não traz proveito a ninguém, a não para si próprio. Eis a razão para serem demasiado desprezados!
Aventure-se lançar mão de uma postura que não se destine à satisfação alheia, veja a “necessidade-utilidade” atuar como um repelente de pessoas.
Quem seria tolo o bastante para atrever-se por tal tarefa? Pois há algo mais agradável do que a companhia das pessoas? A propósito, já perceberam como todo o contentamento humano está firmado nas companhias e no reconhecimento pelas pessoas? Já notaram o poder de um elogio? Ah, como é bom ser elogiado! Conforme meu amigo imaginário Arthur Schopenhauer: Sic leve, sic parvum est, animum quod laudis avarum subruit ac reficit (é tão fácil, e tão pouco basta para levantar, ou abater um coração sedento de elegio)
Mas, de qualquer forma, eu preciso de martelos.
Gostaram?
Pois bem... esse texto é de um grande amigo meu. O "fi de Nietszche" Adolf MÜLLER!
O estilo é o mesmo dos textos antigos... Vai ver que é por isso mesmo que somos amigos: afinidade de pensamentos, de ideolgias, de viagens...
Thanx my friend! E CONGRATULATIONS! Belíssimas palavras!
Ah! Lembranças minhas ao seu amigo imaginário! =)
Monday, April 09, 2007
Hoje eu quis chorar
Tuesday, February 27, 2007
Acho que você não é um plutoniano
Tuesday, February 06, 2007
Você é mesmo um besta!
A pois. O msn estraga a minha vida e a de milhares de pessoas ao redor do mundo. Tenho plena convicção disso. No entanto, ainda há salvação nesse mundo perdido que consome a vida e o tempo desses pobres viciados, incluindo eu, é claro. Foi numa conversa sem interesse nessa budega de msn que eu, projeto de escritor, junto com Samene, a noiva do "B", tivemos a idéia de escrever o texto que se segue. Na verdade a idéia foi DELA! Só fui escreveno a minha parte mesmo... Mas foi uma experiência extraordinária. Descobri, revendo cenas que presenciei aqui em Sampa - e revivendo algumas pessoais mesmo - o quanto a besteira chamada amor e as coisas bestas que só ele traz são tão quanto o próprio ar que respiramos. Sem exageros. Boa sorte na leitura (e no amor).
O silêncio tomaria o mundo com as mãos se não fosse o amor. O amor não seria amor se não fosse simplesmente BESTA. Os amantes não teriam aquele cheiro de carinho, aquele gosto de sorvete em dia de sol e muito menos sentiriam aquela saudade avassaladora se não fossem bestas. O amor é bestificado pelos eternos amantes bestas...estes que adoram ver poesia em tudo, aroma fugidio em despedidas, risos descontrolados, olhar profundo, beijo dulcificado, longos abraços e palavras cintilantes. A verdade é que a vida sem amor é a vida sem besteira...os dias frios sem amantes são dias frios profundamente gelados e inertes...e o pôr do sol sem a besteira da emoção é um quadro pálido na parede branca. Ver uma coisa besta é ver um casal sentado em qualquer lugar...o mundo se transforma e os pensamentos tomam dimensão intergaláctica; eles somente se olham e pensam:“ Que homem!” ou “ Que mulher!...como se aquele fosse o momento de um ultimo suspiro, em que a mágica lhes trouxe a criatura mais inteira de suas amantes e bestas.
Mas esse bestificar é essencial à vida de todo e qualquer ser vivente. Tenho certeza quase que absoluta que quase todos vocês, leitores desse projeto de escritores em dupla, têm um apelidinho daqueles ridículos que usa um diminutivo neologístico pedaço nome de animal (ou fruta), pedaço nome de país, pedaço um dos 500 sobrenomes do D.Pedro II e que, no fim, se resume num INHO, ou INHA, que soa como a Nona Sinfonia do Ludwig Van nos ouvidos dos pobres e bestas apaixonados. Certo estou também de que todos vocês ficam imaginando zilhões de coisas quando ligam no celular do indivíduo, ou individua (e isso lá existe???) e esse não atende (“deve ta com fulaninha, aquela sirigaita”, ou “vê que sou eu e não atende... vai se ver comigo...” ), mas abre aquele sorriso de gente besta quando o tal do individuo para a bicicleta vermelha na porta com uma flor roubada no canteiro do vizinho dizendo que o carro quebrou, o celular caiu na bacia de água de Sansão, mas mesmo assim ele não poderia deixar de ir lá. Que coisa besta. E linda. O mundo talvez fosse cinza se não fossem coisas besta e coloridas como essa...
E nos entremeios dessas idas e vindas da bicicleta vermelha do Davi e dos amantes iguais a ele ficam as besteiras que são pensadas e faladas diariamente, ao mesmo tempo, nas mais de 6 milhões de cabeças dominadas pelo besta e incrível amor. A condução de duas rodas percorre todo o seu caminho rumo àqueles olhos, sorrisos e coração saindo pela boca... e quando esses caracteres estão distantes, a saudade de gente besta parece câncer... consome..é sempre um exagero! Nada disso seria tão intenso se não fosse besta... aqueles cabelos ao vento não seriam tão perfeitos, ou aquele perfume que entontece não faria ninguém sair de casa na chuva pra pegar aquele ônibus das seis da tarde; talvez aquelas mãos no seu rosto não fossem tão macias, ou então aquele abraço surpresa e o beijo roubado não seriam tão frenéticos; e também ninguém lhe diria “eu te amo” quando você acabasse de acordar... tudo seria um nada se não fosse intensamente besta. Afinal de contas, o ser humano gosta de sentir-se parte de um outro alguém, eles juntam seus segredos, suas manias, seus problemas, seus beijos, suas juras, suas manifestações irracionais, suas loucuras... pra fazer delas uma proposta de vida cheia de cores, luas e puras besteiras.
E é assim que bestas estamos e bestas continuaremos a ser. Com passeios de mãos dadas domingo à tarde pelo parque. Sentados na grama tomando sorvete e melecando o nariz do outro com chantilly. Na porta da escola de havaianas no pé, com o cachorro na coleira esperando o sinal tocar e no fone uma daquelas baladas de amor. Dando toques no celular só pra “dizer” que se lembrou. Dormindo com a foto ao lado da cama, só pra dizer que não se esqueceu. E sempre, na face, aquela expressão de gente besta que aqui no fimzinho do texto pode ficar traduzido para aqueles que ainda não entenderam com cara de gente completa, amada, realizada. Besta. Feliz! =)