Thursday, August 03, 2006
O ônibus errado.
São Paulo, 07 de Junho de 2006, quarta-feira
Hoje não está sendo um dos melhores dias. Acordei já tarde e tenho algumas provas para estudar ainda. Não gosto de semana de provas, mas é impressionante como as coisas das quais não gostamos se apresentam a nós com a mais alta freqüencia. Deve ser algum teste de paciência da vida, ou coisa parecida.
Na verdade eu vim escrever hoje para aliviar um pouco a tensão pré-avaliação. Me lembrei de um fato interessante e se demorasse um pouco mais poderia perdê-lo para sempre na imensa escuridão de minhas memórias.
Neste semestre letivo eu fui dispensado da matéria de segunda-feira. Nunca vou à faculdade nas segundas-feiras, mas nessa em especial (dois dias atrás) tive que me fazer presente em uma reunião com a coordenação do curso e os outros representantes de classe. Saí de lá, da faculdade, disposto a pegar o mesmo ônibus que pego todos os dias. No entanto, como não vinha logo, decidi pegar um outro qualquer que ia até Santana e de lá entrar em um outro qualquer que me trouxesse para casa.
Fiz isso e tive a maior experiência dentro de ônibus que já tive desde que aqui cheguei. Já vi muita gente pedindo, vendendo, com filhos cancerosos e esposas doentes terminais, mas um gesto de gentileza como o desta noite em específico, nunca havia visto antes.
Estávamos na Avenida Tiradentes quando entra uma senhora morena e de uns quase 40 e um casal de jovens que, junto, não ultrapassava em muito a idade da senhora. A tal senhora ocupou um lugar de corredor com uma poltrona de janela vazia, enquanto o pobre casal só teve a sorte de encontrar dois lugares de corredor, um atrás do outro. Não reclamaram. Apenas riam um para o outro. Havia uma aura, uma energia que os unia. O própro ônibus pareceu adquirir outra cor, outro aroma...
Após se acomodarem e guardarem todos os seus pertences em suas respectivas mochilas, preparavam-se para aquele que é o maior vício de casais jovens e apaixonados: o beijo. Desde que aqui cheguei percebo que as pessoas têm uma necessidade imensa de demonstrar publicamente seu amor em ônibus, estações de metrô, nas ruas, escadas rolantes e portas de banheiro. Acho que é porque o pessoal aqui não tem muito tempo.
No exato momento em que completariam a árdua missão de concretizarem o ato de suprema demonstração dos seus sentimentos ao fazerem um malabarismo imenso, quando já estavam a menos de dois dedos de distância um do outro, a senhora, a morena de quase 40 os imterrompe e, com um sorriso gentil, cede seu lugar e o vazio que estava ao seu lado para que os “pombinhos” pudessem, enfim, se beijar em paz.
O que mais me impressionou foi a cara de felicidade com a qual ela fez isso. Parecia realizada. Era como se estivesse revivendo o mesmo momento em suas lembraças. Talvez alguém tenha cedido o lugar a ela no passado Talvez não.
"... rumo à Australia com benhê ..."
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3 comments:
Então...
mais uma experiência sua
q me faz ter tantas recordações
boas, ainda bem...
enfim...
ainda temos pessoas que sentem satisfação em gerar sorrisos, aumentar o amor ou promover uniões, mesmo que seja aqueles afastados por alguns segundos, de alguma forma...
feliz issu, não?
bju david
david...
cara, se um dia eu escrever como vc eu tô feito!
neh inveja naum, eh admiração, consigo me envolver com seus textos
abrço e continue escrevendo assim, pra mim sentir vc por perto, rsrsrs
Ah...
Então quer dizer que esse blog está se tornando uma página bastante frequentada. Não sou mais o único discípulo...rs...
Brincadeiras a parte, como sempre uma sublime reflexão e uma descrição... perfeita.
Abraços!
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